Mais concorrido que medicina na USP, curso de ciência e tecnologia do laboratório mais avançado do país forma primeira turma - 05/11/2024

Instituição reúne alunos em curso interdisciplinar de física, química e biologia com acesso a laboratórios de última geração desde o primeiro semestre. Processo de seleção de 2025 está com inscrições abertas.

A nova ''safra'' de pesquisadores dedicados a ciência e tecnologia está sendo formada em um dos maiores centros de pesquisa do Brasil - e cuja concorrência é maior que a do vestibular de medicina da USP. Localizada em Campinas (SP), a Ilum, escola de nível superior do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), forma a primeira turma em 2024.

Criada em 2022, a instituição abre 40 vagas todos os anos. Na última edição, foram 3,9 mil inscrições, o que corresponde a 97,3 candidatos por vaga. Em comparação, a disputa por medicina na USP no vestibular 2025 é de 96,5 candidatos-vaga.

 

A Ilum está com inscrições abertas para novos alunos e podem ser feitas pela internet até às 18h do dia 16 de dezembro - leia mais no fim da reportagem.

A faculdade é gratuita e reserva metade das vagas para alunos vindos de escolas públicas com uma grade curricular interdisciplinar que incentiva os estudantes a desenvolver projetos de pesquisa em áreas que misturam da física a biologia desde o primeiro semestre.

O g1 visitou a Ilum e conversou com cinco alunos cursando o primeiro e segundo anos que contaram sobre os desafios em viver longe de casa, as trocas culturais de colegas vindos de todo o Brasil e a imersão científica de estudar em um centro de pesquisa de alta tecnologia.

 

 

🛰️🧪 A Ilum

 

O curso de bacharel em Ciência e Tecnologia tem três anos de duração em tempo integral com acesso desde o primeiro semestre aos laboratórios do CNPEM, acompanhando o trabalho de cientistas que atuam nas linhas de pesquisa e desenvolvendo os próprios projetos.

 

“Não dá para fazer curso de ciência sem ter laboratório”, diz Adalberto Fazzio, diretor da Ilum Escola de Ciência/CNPEM.

 

Os estudantes selecionados recebem benefícios como moradia, transporte, alimentação, laptop para uso pessoal, possibilidade de custeio da viagem do local de origem para Campinas para início do ano letivo, curso de inglês gratuito e apoio psicológico.

A formação possibilita ao jovem atuar como pesquisador em instituições públicas, privadas ou alcançar alto nível para atuar em diferentes segmentos relacionados à tecnologia.

No entanto, Fazzio explica que grande parte dos estudantes que estão se formando neste ano está entrando no doutorado direto, enquanto outros preferiram avançar para o mestrado.

O diretor explica que há ainda os que sentem a necessidade de seguir para áreas mais específicas, como a neurociência ou engenharia. Para eles foi firmada uma parceria com a Universidade Federal do ABC (UFABC), que garante vagas para os alunos ingressarem no quarto ano dos respectivos cursos.

A disciplina de Inovação, ministrada em um semestre, também já abriu portas. Voltada para estudar projetos desenvolvidos no próprio CNPEM, um grupo de alunos repensou uma pesquisa sobre monitoramento de estresse hídrico em plantas que despertou interesse de uma empresa privada.

 

“Todos os anos apresentamos pesquisas em dois eventos, o “Ilum de Portas Abertas” e o CEC (Congresso de Estudantes do CNPEM). A gente tem várias experiências em contato com as pesquisas desenvolvidas aqui e do ano passado para cá, a gente aprendeu tanta coisa legal, então você fica assim: ‘nossa, em menos de um ano você aprendeu isso tudo’”, conta Izaque Junior Oliveira Silva, aluno do quarto semestre.

Distância e trocas

 

Vindos de diferentes estados do Brasil, Ana Luiza, Mayllon, Izaque, Raquel e Gabriela contam que a vivência na Ilum é mais que apenas as aulas, pois ao reunir estudantes de todo o Brasil, um dos primeiros desafios é conhecer os costumes e gírias dos colegas.

 

“Só na nossa turma tem 24 estados diferentes. Então a gente teve que aprender a se comunicar”, fala Ana Luiza Loss, aluna do segundo semestre, que veio de Rondônia.

 

“Você pega a nossa turma aqui, tem gente do Nordeste, Norte, Sudeste, tudo ali, juntos. É muito interessante isso, essa parte de juntar vários locais, tem várias comidas, vários costumes. Essa troca cultural”, conta Mayllon Emmanoel Pequeno Santos Silva, alagoano cursando o quarto semestre.

 

Todos os estudantes recebem moradia, transporte, alimentação e apoio, inclusive, para a viagem até Campinas. E entrega uma experiência imersiva que, segundo os estudantes entrevistados, ajuda a fomentar a troca e a parceria.

 

"É muito legal também essa coisa de a gente estar sempre se ajudando. Dá para ver que tem algumas pessoas que têm mais afinidade com algumas coisas do que com outras e aí é legal porque tem muito essa troca", diz Raquel de Godoy Vianna, paranaense, aluna do segundo semestre.

 

"Se alguém tem alguma dúvida, em alguma disciplina, exercício, uma certa dificuldade, abre a porta que aqui na frente uma pessoa possivelmente vai conseguir ajudar ", conta Mayllon.

Momento de decisão

 

Os estudantes contam que mesmo passado o encantamento inicial, continuam fascinados com a escola de ciência e tecnologia, principalmente pelo ensino multidisciplinar e o acesso a laboratórios de última geração no CNPEM.

 

“As oportunidades em um ano na Ilum foram absurdas. Nós estamos escrevendo um artigo já, então nas férias a gente já pode fazer estágio no CNPEM, que também vai gerar um artigo”, fala Ana Luiza.

 

Os alunos contaram sobre as dificuldades comuns da idade em escolher uma faculdade no fim do colégio, afinal, após passar anos estudando várias disciplinas, como escolher apenas uma?

Cada um deles teve a própria jornada. Mayllon conta que queria algo que misturasse computação com biologia, e apesar de encontrar alguns cursos com esse perfil próximos de Alagoas, onde mora, foi uma sugestão da irmã quando ainda estava no segundo ano que o fez escolher a Ilum.

 

“Na época [a Ilum] ainda estava na primeira turma, mas eu estava no segundo ano e não podia ainda me candidatar. Mas eu guardei aquela informação e no fim do meu terceiro ano fui aprovado”, diz Mayllon.

 

Ana Luiza saiu de Rondônia com 20 anos para ser mecânica de aviões em um curso de São Carlos (SP), mas faltando o último semestre para se formar, veio a pandemia e paralisou tudo. Os dois anos parados a fizeram abandonar o curso e até chegou a passar para Física Biomolecular na USP de São Carlos, mas decidiu estudar um ano para passar na Ilum.

 

Assim como Ana Luíza, outros alunos entrevistados tiveram experiências semelhantes de indecisão.

 

“Aí eu dei tiro para todo lado e acabei passando em medicina, passei em engenharia química. Mas eu sabia que eu não ia conseguir ter aquilo que eu queria, que era integrar várias áreas”, lembra Raquel.

Experiências e imersão

 

Uma vez dentro do curso, os alunos contam que existe uma experiência de imersão contínua desde o primeiro ano, desde a possibilidade do uso de laboratórios, a participação em congressos, produção de artigos científicos e estágios com cientistas renomados.

Gabriela Frajtag, por exemplo, realizou o sonho de conhecer e trabalhar com Ada Yonath, ganhadora do Prêmio Nobel de Química de 2009. Ela passou um mês e meio no Instituto Weizmann, em Israel, trabalhando com a equipe da pesquisadora.

 

 

“Eu pude ficar um mês e meio trabalhando no laboratório da Ada Yonath. Foi uma experiência muito boa, aprendi muito”, explica Gabriela.

 

Para Izaque, entre todas as experiências que teve na escola, destaca o estágio no início de 2024 no laboratório de nanotecnologia do CNPEM. O aluno conta que passou cerca de um mês e meio trabalhando em um projeto de onde sintetizava materiais.

 

“Eu acho que eletroquímica é uma área que me deixa, sabe quando você sente seu coração ficar acelerado de tanta felicidade. Que é algo que você tá vendo e você fica empolgado falando sobre aquilo, foi a sensação que eu tive”, fala o capixaba.

Como se candidatar

 

A Ilum Escola de Ciência, idealizada por professores e pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), que abriga o superlaboratório Sirius, em Campinas (SP), está com inscrições abertas para o bacharelado gratuito em ciência e tecnologia.

 

👩‍🔬 As candidaturas para as 40 vagas disponíveis podem ser feitas exclusivamente pela internet até as 18h do dia 16 de dezembro. Diferentemente das instituições de ensino superior tradicionais, a escola não utiliza vestibular no processo seletivo, adotando os seguintes critérios:

 

  • Manifestação de interesse: feita pelo site da Ilum, onde o candidato deve escrever sobre experiências pessoais e escolares que motivaram a escolha pelo curso
  • Nota do Enem: por meio do CPF, a escola tem acesso às notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) do candidato, que também são levadas em consideração
  • Entrevista: do total de interessados, 250 candidatos serão pré-selecionados e convidados para entrevistas individuais com a Comissão de Avaliação.

 

Fonte: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2024/11/05/mais-concorrido-que-medicina-na-usp-curso-de-ciencia-e-tecnologia-do-laboratorio-mais-avancado-do-pais-forma-primeira-turma.ghtml